Em meio a samples, batida eletrônica, glitches e projeções, o cantor Renato Enoch lançou, um grande sucesso, que faz uma ponte entre o novo e o antigo, reinterpretando duas canções da MPB em seu novo clipe “des construção“.

Renato canta e utiliza samples da canção “Construção“, de Chico Buarque, ressignificando-a junto à letra de “Desconstrução“, de Tiago Iorc. Com métricas similares, ambas as canções fazem retratos dos contextos sociais de suas épocas, mas aqui soam como se fossem uma única e atual canção. Assista abaixo:

Nos tivemos a oportunidade de fazer algumas perguntas bem bacanas para Renato, sobre como veio a ideia de mesclar a música de Buarque e Iorc, e como ele deseja atingir o público da atualidade, da nova geração. Leia abaixo:

Estação Geek: Como foi o processo de transformação para a criação de “des construção”?

Renato Enouch: Acho que já era clara a referência à “Construção” que existe na composição do Tiago Iorc, e isso foi o pontapé inicial para a versão existir. No entanto, foi bem interessante tentar trazer uma letra dos anos 70 para a realidade atual. Para isso, tomei a liberdade de desconstruir um pouco a obra do Chico, mudando alguns versos de lugar e criando um novo contexto para a letra. Da mesma forma, o arranjo foi pensado para trazer uma atmosfera mais contemporânea para a música. Para isso, nós (eu e Fillipe Glauss) colocamos o sample de “construção” e alguns elementos analógicos num contexto digital. Procurei manter a emoção das originais na minha interpretação.

EG: Quais são suas grandes inspirações no mundo da música?

RE: Muita coisa diferente me inspira na música, desde a MPB (em especial dos anos 70) até estilos como o soul/R&B, o indie folk, o rock. Mas adoro cultura pop e música pop, justamente por serem muito acessíveis e tocarem um número muito grande de pessoas. Sinto que a variedade de referências que tenho na música é o que me faz gostar tanto de misturar as coisas, além de me dar uma certa liberdade para tentar ousar mais na hora de criar ou interpretar.

EG: Você acha que fazendo esse tipo de “mesclagem” de músicas com críticas sociais de épocas diferentes, acaba sendo uma forma de atingir o público para os problemas que estamos tendo hoje no Brasil – e que já existe faz um tempo?

RE: Acredito que é muito importante revisitar obras como essa do Chico Buarque para que as novas gerações tenham contato com o passado e relacionem com o presente. Achei fantástico como o Tiago Iorc fez isso com a letra de “desconstrução”. Mesmo assim, acho que boa parte do público – por ser de uma geração bem mais nova – não se atentou a isso. Daí veio a ideia de juntar as duas canções e explicitar essa relação, trazendo uma nova linguagem e uma nova estética para elas. 

Cada letra já diz muito por si só. Enquanto “construção” retrata a realidade de um operário de construção civil no início dos anos 70, cuja morte trágica é banalizada perante a sociedade, “desconstrução” fala sobre a nossa geração atual, sobre as pressões que ela enfrenta e sobre algo muito recorrente na atualidade que é a depressão e outros transtornos mentais. 

Gosto de pensar que as questões abordadas em ambas as letras têm relação direta com os períodos em que foram escritas. Enquanto a letra do Chico Buarque foi escrita durante a ditadura militar, num período de repressão, “desconstrução” veio num período globalizado mas cheio de retrocessos, no qual ideais conservadores voltam a ganhar força no Brasil e no mundo. Acredito que muitas dessas pressões e depressões têm relação com esse nosso momento e espero que a minha interpretação possa, de alguma forma, trazer reflexão e sensibilizar o olhar de quem assistir.

 

Logo após esse sucesso, o cantor lançou seu EP “Recortes {b}”, que traz releituras de clássicos nacionais dos anos 70.

Com sete faixas, três trazem participações significativas para o cenário atual. Clara Valverde divide a canção “Ovelha Negra”, de Rita Lee; Enoch convida Felipe de Oliveira para “Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua”, de Sérgio Sampaio e Thais Kiwi, que faz uma versão repaginada de “you don’t know me”, do Caetano Veloso. Além disso, “Mistério do Planeta”, de Novos Baianos e “Como Nossos Pais”, de Belchior, são algumas das canções que completam o novo trabalho.

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