“Morte no Nilo” dirigido por Kenneth Branagh é mais uma adaptação do icônico livro de Agatha Christie. A história apresenta um novo caso para o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh), dessa vez nos levando para o Rio Nilo, a bordo do Karnak. Em um misto de emoção, suspense, comédia e investigação, o diretor entrega uma obra coesa e bem articulada.
A primeira sequência do filme, é onde conhecemos a origem do detetive Poirot. O uso do preto e branco referencia grandes obras do cinema de guerra e assume um caráter particular e sensível dentro da trama. Essa aproximação com o personagem dá significância para outras sequências importantes que dramatizam e adicionam mais uma camada ao protagonista.
O início da próxima sequência já nos apresenta outros dois novos personagens, Jacqueline De Bellefort (Emma Mackey) e Simon Doyle (Armie Hammer). A atuação de Mackey é um dos destaques do filme. Sua expressão muda conforme o seu desenvolvimento, e suas atitudes vão revelando pouco a pouco as características emocionalmente sádicas de sua personagem. Além disso, a personagem sempre está acompanhada de cores visualmente contrastantes em momentos diferentes – vermelho em certos momentos, e branco em outros – a atriz ganha força em uma atuação que mistura a inocência e a violência.
A obra se apoia em cenas pacientemente construídas. A preocupação desde o início do filme é criar uma relação entre os personagens e o público e isso é feito de forma brilhante. Os casos e intrigas que começam a se desenrolar desde o primeiro ato do, apresentam vertentes ao longo do desenvolvimento do caso principal – o assassinato; que move o início do segundo ato.
Enquanto o caso se desenrola, vemos que cada personagem apresenta suas peculiaridades e motivos para serem suspeitos de tal assassinato. Essa escolha narrativa vai construindo a tensão cena após cena, e por ser em um lugar pequeno, o assassino estaria entre os tripulantes do navio. Com isso, o público é levado a desconfiar de cada um, e acompanhar a resolução do caso, partindo dos pontos de vista do detetive Poirot. A utilização da câmera em travelling, vai revelando as figuras assustadas mas ao mesmo tempo tão culpadas de cada um a bordo. Escolhemos aqui nossos próprios culpados, mas ainda com uma certa desconfiança, que acompanha o espectador com o uso de uma sonorização tensa até o terceiro ato.
Os defeitos do filme aparecem aqui. Talvez a paciência seja a inimiga da perfeição nesse caso. A distribuição temporal durante a introdução e desenvolvimento do filme – apresentação dos personagens e início do caso – a resolução parece ser facilitada pelo roteiro. Mesmo aceitando as habilidades de Poirot como o melhor detetive do mundo, a solução dada em uma única e rápida sequência, é recheada de tensão para prender o público e enfim indicar a resposta que estava se desenhando até esse momento. O filme se encerra com uma sensível cena envolvendo Poirot, que conclui o processo de evolução sentimental do protagonista.
“Morte no Nilo” é um bom filme de investigação e com um divertido desenvolvimento de personagens. Além disso, o charme dos figurinos, e a riqueza na qual esses personagens estão envolvidos são pontos positivos para a construção geral da obra. O longa tem paciência de apresentar as diferentes motivações, mas peca ao oferecer uma finalização facilitada e acelerada, tornando sua resolução relativamente simples.