Crítica por Bernardo Vilela

Ridley Scott já é um diretor consagrado. Instintivamente, ao anunciarem mais um de seus filmes, supõe-se que, pelo menos, será marcante de alguma forma. Em O Último Duelo, vemos uma obra baseada em acontecimentos reais descritos no livro The Last Duel: A True Story of Crime, Scandal, and Trial by Combat in Medieval France, der Eric Jager, e, desde o princípio, entende-se que será um emocionante épico histórico, assim como fez em Gladiador, de 2000.

O filme narra em 3 pontos de vista a história de uma mulher que se dispõe a enfrentar sozinha o sistema patriarcal e religioso do século XIV em busca de justiça. Com risco de ser condenada à fogueira por injúria e falso testemunho, ela acusa o melhor amigo do seu marido de abusá-la sexualmente. Após isso, os amigos lutam até a morte em um último duelo para honrarem suas próprias perspectivas do acontecimento. Com esse contexto, Scott consegue trabalhar muito bem a indignação e o sentimento de impunidade do espectador. Em conjunto da atuação impecável de Jodie Comer – estrela de Killing Eve – e da dupla de amigos Matt Damon e Adam Driver – que também estará presente em House of Gucci, no fim do ano – os papéis narrativos desses personagens parecem se tornar diferentes a cada ato. Em muitas situações isso pode ser ruim, mas, nesse caso, já que a obra se divide em 3, uma de cada um dos protagonistas, ajuda a instigar o observador a acompanhar essas visões. Inclusive, ao analisarmos cada uma delas, conseguimos traçar paralelos desses personagens e dessa sociedade com a realidade em que vivemos, o que torna essa história, infelizmente, ainda muito atual.

O filme possui mais ou menos 2 horas e meia de duração. Praticamente meia hora de introdução dos personagens principais e, até quase a metade do filme, vemos somente a parte da história do personagem de Matt Damon, que é quem começa a conduzir a narrativa. Esse tempo poderia ser excelente para aprofundar os personagens, os contextos sociais e todo o universo do filme, entretanto torna-o excessivamente repetitivo em certos momentos. Há muitas cenas e personagens descartáveis, como a maior parte da corte, que praticamente não interfere na trama principal. Cenas que supostamente serviriam para construção de personagens, como algumas em que os papéis de Adam Driver e o de Ben Affleck demonstram sua boemia, repetem-se muitas vezes, enfatizando o que já tinha sido compreendido. Além disso, por se tratar de um filme de pontos de vista, algumas cenas também se repetem nos 3, só que praticamente iguais, tornando entediante e cansativo em alguns minutos. Era nesses momentos que o filme me perdia e eu me perguntava as horas.

Assim como em Gladiador, os visuais e o design de produção são de cair o queixo. Em certas situações, me peguei admirando a beleza das cenas: os cenários grandiosos e com sua natureza medieval, os detalhes de cena, os figurinos, que, mesmo não sendo os mais bonitos que eu já vi na vida, eram muito bem detalhados, e os penteados – sim, estão lindos e marcantes – da protagonista. As cenas de batalhas também são muito bem compostas, desde os golpes, os efeitos visuais e até os movimentos de câmera que nos deixam sem fôlego.

Em geral, O Último Duelo é um filme que se destaca. Aquele do tipo que futuramente vai ser considerado uma obra e tanto, sabe? É mais um acerto de Ridley Scott, mesmo que eu realmente tenha achado certos momentos muito repetitivos, como se demorasse para algo novo aparecer. O filme traz como pano de fundo uma batalha entre duas estrelas do cinema hollywoodiano para revelar-se uma história sobre uma mulher vítima do controle masculino perante a liderança política, a autoridade moral, o privilégio social, o controle das propriedades e dos corpos femininos das entidades na Idade Média. Relação essa que, mesmo antiquada, ainda é muito presente socialmente. As interações masculinas com as mulheres do filme, principalmente a protagonista, e os diálogos são muito importantes de se prestar atenção. Com certeza é um filme que eu gostaria de rever para poder apreciar ainda mais suas minúcias.

13 COMENTÁRIOS

  1. Excelente o comentário do Bernardo Vilela que mais uma vez mostrou sua sagacidade e visível atenção as minúcias do filme. Gostaria de maiores detalhes sobre esse rapaz que tão bem explana suas críticas

  2. Gostei muito da crítica de Bernardo Vilela, principalmente em sua sensibilidade quando destaca que a narrativa do filme se mostra próxima ao contexto atual.

  3. Bernardo fez sucesso no início da pandemia como ator em crítica bem humorada sobre a covid
    E agora reaparece faz uma crítica ecelente !
    Demostrando novamente a sua inteligência privilegiada!

  4. Belo texto Bernardo! Dá vontade de ver o filme mais ainda por ser de tema medieval que gosto muito. Interessante esse jogo de 3 pontos de vista no mesmo filme.

  5. Bernardo, gostei muito mas não tenho muita condição de falar sobre o assunto, mas sei que as atitudes erradas sempre se repetem, cada vez mais inteligentes mas agindo erradamente sempre é descoberto Paraíso que tente esconder traições, atos ilícitos, fofocas …
    E o cinema hoje mostra muito o cotidiano da sociedade.
    Gratidão !!
    Elogio sempre a sua forma atual de mostrar seu trabalho e Tb como um jovem do século XXI. está de Parabéns!!

  6. Gostei bastante , embora não tenho muito conhecimento sobre o assunto. Mas o cinema atual está passando muito o cotidiano da sociedade atual com críticas e tb muitas vezes elogiando. Muito bom !!!

  7. A abordagem do Bernardo Vilela sobre o filme é muito boa. Excelente a crítica que ele faz sobre o filme e usa uma linguagem bem clara paravquem gosta de cinema entender. Gostei!

  8. É muito interessante termos uma perspectiva outra sobre um filme antes de adentrar na narrativa. O Bernardo apresenta uma abordagem agradável e objetiva, o que facilita e encoraja a conferência.

  9. Com certeza os comentários de Bernardo Vilela, nos faz já ter uma boa expectativa sobre o filme. Aguardamos com ansiedade a hora de assistir.
    Parabéns Bernardo, por sua excelente abordagem.

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