Visceral, intenso e um tanto quanto claustrofóbico, “Animais Noturnos” é uma adaptação do romance escrito por Austin Wright em 1993, chamado Tony e Susan e que tem um dos roteiros mais fortes de 2016.
O início dele pretende deixar o espectador chocado com o que está vendo, porque Susan, personagem de Amy Adams, quer exatamente isso: impactar as pessoas com as suas exposições de arte. Com críticas pesadas à sociedade, as primeiras cenas que vemos são pessoas obesas dançando nuas por tempo suficiente para dar um desconforto proposital e inevitavelmente já conseguir imersão imediata do espectador.
Pode-se dizer que é um drama obscuro, porque não tem elementos suficientes para ser um suspense, e que trata principalmente de relacionamentos, mas não a visão bonita ou superficial. Tom Ford tenta trazer a face podre das relações e trabalha muito com reviravoltas, com closes sufocantes e muitos minutos de pausa entre diálogos, já que Susan está sempre lendo o livro sozinha.
A direção no início pode de deixar um pouco confuso com cortes abruptos, mas depois mantém uma qualidade técnica incrível, com uma fotografia igualmente sufocante e genial, com uma paleta de cores quentes na representação do livro e cores frias e duras na realidade. A graça aqui é a brincadeira do real com o ficcional, que acaba trazendo uma fragilidade à personagem cada vez mais latente. E o mais inteligente da narrativa toda é que enquanto ela lê o livro, “Animais Noturnos”, dedicado justamente a ela, Susan não vai narrando o que lê, como normalmente acontece quando o personagem lê algo. É seco e direto: ela vai lendo e a história aparece na sequência, sem a interrupção dela. Como se não bastasse, o fechamento é genial, já que é só no final que tudo faz sentido.
E é claro que se não houvesse essa trama secundária da história do livro, o filme ia perder metade de graça. Tem vários detalhes intrínsecos e o melhor é que ele trabalha muito com a percepção do espectador. Não precisa dizer nada, o entendimento fica por conta de quem está assistindo.
Mas não vá ao cinema só pensando que o filme é Amy Adams. Jake Gyllenhaal está incrível nesse filme. Seu personagem lida com traumas, mas é frágil e ao mesmo tempo intenso, tão intenso que em uma cena ele entorta o olho de sofimento que não há como saber se foi proposital ou se ele estava botando tanta intensidade que estava a ponto de ter um AVC.
Os dois estão excelentes e são duas presenças pulsantes o tempo todo no filme. Ainda assim, possui um elenco de apoio forte. Aaron Taylor Johnson está atuando tão bem que recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, junto com roteiro e direção, e no caso dele principalmente é peculiar, porque ele vem de filmes como Kickass e Godzilla. Ele faz Ray, um dos personagens da história ficcional que a Susan está lendo e que é basicamente o vilão maluco da história. E como Xerife, também da história ficcional, Michael Shannon não decepciona e não fica para trás nas atuações, sendo por vezes um alívio cômico não tão cômico assim.
É um filme pesado, e é importante dizer que não é todo mundo que vai gostar ou entender a proposta. Portanto, se gosta de filmes intensos, um pouco densos e que brincam com a percepcão do espectado, esse certamente é o tipo de filme para assistir antes de 2016. Além é claro de ser tecnicamente lindo, com atuações intensas e que toda hora tenta dar uns tapa na cara de quem assiste, já que as situações ali expostas tentam atingir internamente e muitas vezes conseguem. É tudo menos leve, mas definitivamente tem um dos melhores roteiros do ano.
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