Com mais de seis décadas de existência e após catorze anos longe dos cinemas ocidentais, Godzilla continua tendo um apelo digno do seu tamanho na cultura pop. Assim como o clássico Gojira de 1954, este reboot trata das graves consequências acarretadas pela exploração científica nuclear promovida pela humanidade. Os monstros, aqui chamados de MUTOs (organismos terrestres massivos não identificados), estiveram na Terra muito antes do homem, numa época onde a atmosfera terrestre era dez vezes mais radioativa do que nos tempos atuais. Agora, quando a humanidade atravessa o limite da arrogância científica, eles retornam para desafiar nossa existência.
Godzilla é originário do mesmo ecossistema dos MUTOs, porém ele se adaptou para sobreviver apenas com a radiação do interior do planeta, permanecendo escondido abaixo do oceano. No primeiro ato da trama, ocorre um desastre nuclear na usina de Janjira, onde trabalha Joe Brody (Bryan Cranston), culminando na morte de sua esposa Sandra (Juliette Binoche). Inconformado, Joe descobre que há algo sendo escondido sobre o evento e resolve entender o mistério. Quinze anos depois, seu filho, tenente Ford (Aaron Taylor-Johnson) toma o lugar de protagonista e é convencido pelo pai a acompanhá-lo uma última vez na zona restrita em torno da área devastada, quando eles descobrem a verdade por trás da usina e presenciam o despertar do primeiro MUTO, que era ocultado e estudado há anos pelo grupo Monarch, chefiado pelo Dr. Serizawa (Ken Watanabe).
Assim que os MUTOs despertam, eles atraem seu predador alfa, mudando a dinâmica do filme. O personagem de Watanabe, que estuda as descobertas feitas desde a Segunda Guerra Mundial, serve para dar ao espectador a visão que o diretor tem sobre o monstro, nos fazendo acreditar que Godzilla é uma força da natureza voltada para restabelecer o equilíbrio natural do planeta. Com os monstros soltos pelo mundo em busca de recursos para se reproduzir, a humanidade passa a encarar uma crise sem precedentes. Mesmo os maiores esforços militares são ineficazes em razão do pulso eletromagnético emitido pelos MUTOs, que inutiliza toda tecnologia humana num raio enorme, fazendo com que a única esperança da humanidade seja o Rei dos Monstros.
Em meio ao caos, vemos a jornada de Ford para reencontrar sua esposa Elle (Elizabeth Olsen). O drama entre ambos tem muito espaço na tela e o fã público alvo do título pode se decepcionar por até esta altura Godzilla ainda não ter ocupado o papel principal na trama. Acontece que durante grande parte da projeção o longa faz uso da estratégia de revelar seus monstros aos poucos, criando um clima de suspense e grandiosidade. No início, eles não são vistos diretamente ou por completo, o que mantém a curiosidade do espectador aguçada até os momentos finais. O próprio Godzilla demora muito para aparecer e, quando aparece, não recebe o devido destaque. Enquanto os monstros lutam, vemos os humanos buscando formas de sobreviver e entender a situação.
Gareth Edwards, diretor de Monstros (2010), já havia mostrado sua capacidade dentro do gênero, mas desta vez atingiu um novo nível de efeitos especiais. Em termos estéticos, este é um Godzilla totalmente novo que respeita e reverencia suas características clássicas. As capacidades destrutivas do monstro são vistas no terceiro ato, quando ocorre a batalha que decide o futuro da espécie humana, mostrando aos espectadores mais novos e lembrando os antigos do motivo de Godzilla ser chamado de Rei. Quando temos confronto entre monstros é onde o filme realmente brilha e causa momentos de êxtase, podendo te fazer perguntar por qual motivo no filme do Rei dos Monstros, as criaturas são preteridas para dar espaço ao drama humano. O fato de Bryan Cranston aparecer menos do que o sugerido pela publicidade do filme não ajuda, já que o maior protagonista da trama não possui o mesmo carisma do astro de Breaking Bad. Ainda sobre a publicidade, vale ressaltar que os monstros são menores do que nos fizeram acreditar, mas ainda assim gigantescos. Por esta escala o filme merece ser visto em IMAX, porém os efeitos 3D são quase imperceptíveis.
O longa funciona muito bem como homenagem aos clássicos filmes de monstros japoneses vistos no século passado, entretanto não explora completamente seus personagens, mesmo com um time de atores tão forte, da mesma forma que para muitos pode não mostrar o bastante de lutas entre monstros. No fim das contas, pode decepcionar aqueles que esperam algo como Pacific Rim (Círculo de Fogo), mas dificilmente descumprirá a missão de entreter. Para ser melhor, este filme precisava apenas de mais tempo de Godzilla.
Ficha Técnica
Godzilla – 15 de Maio de 2014
Duração: 123 minutos
Gênero: Ação/Suspense/Ficção Científica
Direção: Gareth Edwards
Roteiro: Max Borenstein e Dave Callaham
Elenco: Bryan Cranston, Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen, Sally Hawkins, Juliette Binoche e David Strathairn
[…] ruas de sua megacidade japonesa, em um futuro distópico. O elenco conta com: Juliette Binoche (Godzilla), Chin Han (Batman: O Cavaleiro das Trevas), Michael Pitt (Hannibal) e […]