Hibisco Roxo, livro lançado pela Companhia das Letras, escrito por Chimamanda Ngozi Adichie é um excelente retrato de uma família rica limitada por um fanatismo religioso e controle absoluto diante de uma nação pobre.

Em Hibisco Roxo temos uma trama simples focada em uma família e sua simplicidade. Não espere grandes acontecimentos, cliffhangers ou mortes cheias de suspense. O livro é sobre como uma família pode ser disfuncional e como isso pode afetar todos que nela estão. Narrado em primeira pessoa, temos Kambili, uma adolescente que cresce em uma casa rica com seu pai, um fanático religioso, sua mãe e seu seu irmão. Destoando de todos em sua volta, Kambili é rica e seu pai é quase um profeta em sua região por ajudar financeiramente muitas pessoas. Seu pai exige dos filhos e da esposa, cria torturas físicas e psicológicas para quem descumpre seus mandamentos e mantem todos em rédeas tão curtas que sua família parece vazia e seca. Diante desse cenário, encontramos a tia de Kambili, Ifeoma, uma mulher independente e pobre. A partir do convívio de Kambili e sua tia, é criada uma trama muito bonita e trágica ao mesmo tempo.

Mais conhecida como Chimamanda, a autora é a principal voz contemporânea da Nigéria no quesito literatura, tendo sido premiada diversas vezes por seus trabalhos de ficção. Além disso, ela é uma escritora feminista também e até é palestrante sobre o tema. Porém, se você está esperando que Hibisco Roxo seja algo do tipo, é bom estar preparado: o tema feminismo não é citado e fica com o leitor a tarefa de tentar pegar os minúsculos pontos onde isso é usado.

Com uma família tão disfuncional e problemática, é impossível não conseguir conectar a história com grande parte do público brasileiro. A história pode ser adaptada em quase toda sua totalidade para a realidade brasileira e isso te aproxima dos personagens. Seja a mãe que aceita a violência doméstica e familiar, o irmão rebelde ou a própria filha que se sente completamente desconectada da realidade.

Todos eles têm carisma, mesmo que às vezes você tenha vontade de matar um deles por serem tão certinhos. Eugene, o pai, é uma figura controversa que exibe crueldade e carinho ao mesmo tempo, usando punições físicas para fazer seus filhos entrarem na linha. É notável ver que Chimamanda não usa do pai agressivo para colocar um vilão universal na trama. Embora ele seja um homem horrível, conseguimos notar sua total falta de jeito com a vida e seus filhos, punindo-os para depois dizer que os ama.

Chimamanda também coloca pitadas reais no livro todo. Em meio ao turbulento relacionamento familiar, temos também a relação da religião cristã imposta aos nigerianos e como o colonialismo deteriorou a relação do país que está enfrentando um golpe militar. Tudo isso é dado aos poucos e nunca é a trama principal. Só percebemos o resultado da invasão e tentativa de branqueamento cultural da população quando os efeitos aparecem.

A escrita de Chimamanda é adorável em todos os aspectos. Ela coloca palavras e expressões nigerianas para que sentimos mais perto da cultura, e tudo funciona perfeitamente. As páginas voam conforme você lê e é incrível ver como em um livro de poucas páginas conseguimos nos sentir mais conectados do que nunca com a autora.

Embora seja um livro sutil, Chimamanda foi uma gênia ao conseguir colocar tanto em 330 páginas: desde supressão da cultura africana aos conflitos armados do país e corrupção passando por intolerância e pobreza, Hibisco Roxo é uma obra prima em todos os aspectos.

 

Prós

– História emocionante

– Personagens

– Minimalismo

– Referências Históricas

Contras

– Nenhum

Companhia das Letras                     2016                           328 páginas

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