Pedra no Céu é uma obra escrita pelo famosíssimo Isaac Asimov – o mesmo escritor de Eu, Robô – publicada em 1950. Obra esta de ficção científica mais atual e contemporânea que alguém poderia ter escrito há mais de sessenta anos.

Cercada de princípios excelentes e de uma escrita gostosa, o livro é uma leitura tranquila, satisfatória e tão atual que me surpreendeu em diversos pontos, embora em outros nem tanto.

Como ponto central temos um senhor chamado Joseph Schwartz que acaba sendo teletransportado para o futuro, completamente sem querer. E a partir daí a trama vai se desenvolvendo de uma maneira inesperada, deliciosa, mas – no fim – de maneira genérica.

É Incrível a habilidade de Isaac em criar um futuro imaginário. Há pouquíssima referência ou detalhe sobre este tempo, cabendo ao leitor desenvolver esse universo na própria mente como bem desejar, um ponto extremamente positivo.

O que mais me chamou a atenção e me fez ficar aficionado no início é o modo como a Terra se encontra e os problemas sociais que todos enfrentam. Na trama, a Terra passou por algum evento radioativo – não sabemos se foi uma bomba atômica, ou uma catástrofe nuclear, não sabemos de nada – e a vida no planeta é escassa e difícil. Com milhões de outros planetas descobertos, a humanidade é anexada ao Império Galáctico, que vê a Terra como um planeta medíocre, com seres insignificantes que adoram se rebelar e incrivelmente inferiores aos outros, mesmo que toda a galáxia seja habitada pelos mesmíssimos humanos que temos na Terra.

A parte do preconceito e diminuição dos “terráqueos” me cativou de uma maneira inesperada. Todos os oriundos da Terra sofrem preconceitos, são rejeitados, humilhados e diminuídos por uma galáxia que se vê superior ao “velho” planeta Terra. A população da Terra se torna pressionada pelo Império e pelos Anciões – pessoas que querem causar uma rebelião, criar o caos e a desordem em um planeta bastante fragilizado.

Dentro desse cenário, Schwartz – nosso protagonista viajante do tempo – é investigado e colocado em uma máquina ainda em testes que tem como função “aumentar a inteligência terráquea”, já que de acordo com a maioria “os habitantes da Terra são mais burros do que os outros humanos na galáxia”. Surge então outro personagem chamado Arvardan, um arqueólogo em busca de provas científicas de que a raça humana é oriunda da Terra, contrariando o que todos da galáxia pensam. A partir disso, temos um plot que envolve mais tramas políticas, mantendo a ficção científica de primeira e a boa escrita.

A edição física é espetacular em todos os sentidos. De longe é o livro mais bonito de minha estante. Com uma capa linda, um tamanho reduzido e um verso inteligente e diferente, a Editora Aleph conseguiu se superar no design, inovando em quase todos os aspectos.

Com relação à tradução, não encontrei muitos problemas, apenas palavras que poderiam ser trocadas. “Altercação” (altercation) aparece aqui para meu pavor, mas seu uso é muito pontual e raríssimo. Tirando esse mínimo detalhe, uma das melhores traduções que desfrutei nesse ano.

Meu único ponto negativo é com relação à mudança de foco na história central. O livro originalmente era um conto, que foi expandido para uma obra maior. Isso é visível durante a leitura. Até a metade temos um setup de um futuro distópico, regado de problemas sociais e culturais, mas o autor optou por mudar o rumo da história de maneira abrupta. Lembrando que se trata de uma de obra literária de 1950, alguns plotpoints também podem soar genéricos. Enquanto a trama inicial me prendeu, surpreendeu e me fez desejar conhecer ainda mais os problemas da tal Terra futurista, alguns eventos sucedentes não me cativaram em nada, criando um enredo em pequena parte cansativo e com reviravoltas que não funcionaram para mim. Mesmo assim, Pedra no Céu é um livro interessante e agradável. De maneira alguma a parte final – para a qual dirijo essas críticas – eliminou os diversos pontos positivos ao longo da trama como um todo, que é dinâmica e profunda nas questões da Terra distópica. Imaginar que um escritor em 1950 conseguiu jogar o preconceito que diversos sofrem ainda hoje, para cima de todos os terráqueos e ver como isso nos modifica é de uma genialidade assombrosa. Pedra no Céu vale a pena cada centavo.

 

Prós:

– Escrita encantadora

– Início fantástico

– Conflitos terráqueos

Contras:

– Rumo da história

 

Editora Aleph                                                   310 páginas                                                       2016

*exemplar cedido pela editora

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