Escrito por dois irmãos russos, Piquenique na Estrada é um daqueles livros eletrizantes do início ao fim, derivando um pouco das distopias clássicas onde o foco é o movimento ou a sociedade para focar exclusivamente na vida dos personagens e em suas ações.
Na premissa, a Terra foi invadida por extraterrestres brevemente sem nenhum tipo de comunicação, montando instalações em alguns pontos do mundo e logo indo embora para algum lugar que desconhecemos. Quem eram eles? O que queriam? Qual a razão para ir embora? Piquenique na Estrada não responde nenhuma dessas questões, ao invés disso, nos coloca justamente nessa civilização humana pós-invasão que se encontra perdida sem as explicações que os habitantes da Terra sempre precisaram.
Acompanhamos Red, um sujeito comum que busca conseguir dinheiro de maneira ilegal para sua família, roubando “artefatos” de dentro das Zonas. As regiões onde os ETs habitaram brevemente ficaram inexplicavelmente diferentes: os objetos ganham funções quase mágicas como baterias que nunca acabam, uma névoa que derrete os ossos e até uma fonte de desejo. Tudo isso é propriedade do governo que não ousa pisar nessas localidades, deixando assim a função para os stalkers, pessoas que se arriscam a retirar algum objeto e vender para quem quiser. Sendo um stalker, Red é um daqueles personagens que nos apegamos mesmo sabendo que não é o cara mais legal possível.
Diferente do que temos em Nós, por exemplo, aqui não temos um grande problema a ser solucionado ou até uma revolta contra o governo, mas sim como nós, seres humanos, podemos lidar com a ideia de que fomos dispensados por uma raça alienígena sem razões, além de termos que lidar com os objetos estranhos que estão entre nós.
Seguir Red é uma aventura rumo ao inesperado. Ler sobre sua primeira aventura é algo que nos impressiona pela habilidade dos irmãos Strugátski em deixar com que uma trama que deveria ser pesada ou monótona se transforme em um livro de ação repleto de cenas interessantes e diálogos fortes. Estamos acostumados com distopias clássicas que focam no governo e em como derrotá-lo que quando olhamos para os mais famosos esperamos que este seja o caso aqui também porém, o que encontramos é uma obra fluída, rápida, destoando completamente dos preconceitos que temos com literatura clássica.
Não pense que temos somente ação desenfreada no livro. Há temas levantados e outros mencionados que dão liberdade para o leitor interpretar da forma que assim entender. Os personagens são bem intrigados e embora não haja aprofundamento, a real razão para eles existirem está sempre visível durante todo o texto. É difícil não se apegar aos personagens ou até em suas motivações.
Piquenique na Estrada é uma obra capaz de agradar a todos porque não tenta entrar de cabeça no mundo distópico clássico ou tenta ser um livro totalmente focado em ação. Ele é daqueles livros onde você só consegue parar quando trocamos de personagem e ficamos fissurados novamente conforme adentramos mais na cabeça dos outros. Uma das obras mais divertidas do ano passado e é incrível ver como dois irmãos conseguiram unir suas habilidades em torno de um livro que consegue ser simples mas eficiente.
Prós
– Foco na Ação
– Estilo da Escrita
– Questões Relevantes
Contras
– Curto
Editora Aleph 320 páginas 2017