Desde a primeira vez que chegou aos cinemas em 1968, num filme estrelado por Charlton Heston (Ben-Hur), Planeta dos Macacos se tornou um dos clássicos da ficção científica mais complexos espalhados entre filmes e séries de TV. Depois de várias continuações, a imagem da franquia acabou desgastada e em 2001 foi lançado o primeiro remake do clássico, dirigido por Tim Burton e protagonizado por Mark Wahlberg (Transformers: A Era da Extinção), que falhou em recuperar o antigo brilho da série e logo foi rejeitado pelos fãs. Uma década depois, tivemos uma nova tentativa de releitura em Planeta dos Macacos: A Origem (2011), quando muitos já estavam sem esperança sobre o antigo sucesso do título. O longa, estrelado por James Franco (Oz: Mágico e Poderoso), foi uma grata surpresa. Com identidade própria, ele nos trouxe uma ótima trama e efeitos especiais de ponta, preparando terreno para uma nova geração sem esquecer o que queremos em um filme onde macacos dominam o mundo.

No longa anterior vimos os esforços científicos que criaram em laboratório uma cura para doença de Alzheimer. O experimento, testado em símios, a princípio foi um sucesso. Porém, logo foi descoberto que o vírus na verdade era fatal e contagioso para seres humanos e tornava os macacos expostos muito mais inteligentes. O primeiro desses macacos evoluídos, César, se tornou o líder da população símia em uma batalha que culminaria na destruição da ponte Golden Gate. Em Planeta dos Macacos: O Confronto, retomamos exatamente do epílogo do filme anterior, com o avanço da doença ao redor do globo. Agora, quinze anos depois dos eventos passados, chegou a hora de vermos o que restou do mundo depois da epidemia.

Logo no primeiro ato somos apresentados ao estado atual da comunidade símia e o quanto ela evoluiu enquanto a humanidade foi aparentemente dizimada. Vemos macacos se comunicando através de linguagem de voz e sinais, caçando e pescando com armas brancas, ensinando alfabeto aos mais jovens, organizando suas moradias, dominando o fogo e até cavalgando. Esse pontapé inicial dá o tom do resto do longa, que dá ainda mais destaque aos animais do título que o filme anterior. Os macacos vivem pacificamente até serem encontrados por um grupo de humanos, liderados por Malcolm (Jason Clarke, de A Hora Mais Escura), que estão explorando o território em busca de meios para própria sobrevivência. O encontro entre as duas raças que há muito não se viam gera o conflito que serve de ignição para todos os eventos posteriores da trama. A cena tem uma tensão muito bem construída e serve de exemplo para mostrar qual é a raça dominante do planeta.

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Pouco depois de conhecer o território dos macacos, somos apresentados ao que sobrou de São Francisco. Lá conhecemos Dreyfus, interpretado por Gary Oldman (Batman: O Cavaleiro das Trevas), líder da comunidade humana sobrevivente. O ator prova que seu papel foi muito bem escalado quando apresenta a carga dramática necessária para o espectador simpatizar com o lado humano da história, tornando difícil escolher para qual lado torcer no confronto entre as raças. Desde o início não se cria imagem clara de herói ou vilão, com cada lado visando apenas sua sobrevivência, e em passos lentos as duas raças vão se mostrando não tão diferentes assim. Como todos os sobreviventes, Dreyfus perdeu muito ao longo dos anos e consegue passar esse sentimento de tristeza com maestria, mostrando que os humanos estão preparados para combater os macacos se for preciso. Lentamente a diferença entre os dois protagonistas humanos passa a ser a simpatia que Malcolm sente pelos macacos ao conhecê-los em sua casa, tornando inaceitável a ideia de exterminar os primatas com armas de fogo.

Interessante notar que o mesmo conflito de ideais entre os humanos aparece na comunidade símia quando Koba passa a demonstrar que não concorda com a visão do líder sobre a presença humana em seu território. Koba, que foi salvo por César do laboratório onde foi torturado no longa anterior, é o macaco que mais nutre ódio pelos humanos e dá impulso à rebelião que inicia uma guerra e coloca em risco tudo o que seu povo construiu ao longo dos anos. Desta forma Koba acaba assumindo o papel de antagonista do filme e seu combate final com César merece grande destaque. Aliás, as sequências de batalha do filme são realmente muito boas. Esteticamente, nunca deixa de ser impressionante ver macacos cavalgando cavalos portando metralhadoras. Importante ressaltar que mesmo com o excesso de combates, a violência não chega a ser explícita, tornando o filme recomendável para todos os públicos.

Apesar de ter muitas cenas de ação, o lado emocional dos personagens é muito bem desenvolvido. Assumindo certos clichês do gênero, a trama é previsível em determinados pontos, mas não deixa de impressionar pela execução precisa. O roteiro é muito inteligente e reforçado por atuações de primeira qualidade. Todos os personagens convencem e você entende perfeitamente as motivações dos dois lados do confronto. Mesmo com tantos passos adiante, o diretor Matt Reeves ainda encontra espaço para uma justa homenagem ao longa anterior, que deve agradar os fãs mais saudosos e nos lembrar da afinidade do protagonista em relação aos humanos.

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Um dos maiores destaques da releitura da franquia foi a qualidade dos seus efeitos especiais. Desta vez, Andy Serkis, que já deu vida ao Gollum, de O Senhor dos Anéis, além de King Kong, atingiu um novo nível de perfeição com seu trabalho em César. A tecnologia empregada para a captura de movimentos é realmente impressionante e está a frente do que vemos em outras grandes produções. O esmero visual vai além do trabalho de computador e muito da vida dos animais na tela se deve à interpretação de cada ator, que demonstra extrema dedicação. Não que chegue a ser necessário se esforçar para lembrar que está vendo um ator e não um macaco de verdade, mas as ações dos animais são completamente verossímeis em tela. A apresentação gráfica foi aguçada até os mínimos detalhes, conforme podemos reparar nos olhos dos chimpanzés, o que facilita o fator emocional que move o enredo.

Mesmo admitindo que a história seja o ponto principal, os efeitos visuais e 3D são mais do que meramente satisfatórios. É admirável notar a confiança da produção em seus efeitos CGI, sem esconder os macacos em momento algum e os expondo a chuva e todo tipo de situação diversificada. A boa impressão visual se prolonga em vias sonoras quando prestamos atenção no trabalho de composição das músicas feito pelo experiente Michael Giacchino (Lost, Star Trek). É gratificante ouvir uma trilha sonora que acompanha o ritmo do filme e consegue criar a ambientação necessária tanto para as cenas de ação como de tensão. No momento de introdução dos macacos o sentimento de estranheza dos atores só é potencializado pela trilha sonora, que gera um impacto ainda maior.

Dentro do padrão blockbuster, Planeta dos Macacos: O Confronto é um filme inteligente que supera seu antecessor em todos os aspectos. Tantas qualidades o tornam uma parada obrigatória entre os apreciadores da ficção científica, como também garantem um lugar entre os melhores filmes do ano. Em tempos de grandes franquias cinematográficas e sequências infindáveis, é raro comemorar quando um filme deixa a porta aberta para continuação, mas depois deste já não vejo a hora de rever César na telona.

Ficha Técnica:
Planeta dos Macacos: O Confronto (2014)
Duração: 130 minutos
Gênero: Ação/Ficção Científica
Diretor: Matt Reeves
Roteiro: Rick Jaffa/Amanda Silver/Scott Z. Burns/Mark Bomback
Elenco: Andy Serkis, Jason Clarke, Gary Oldman, Judy Greer, Toby Kebbell, Keri Russell, Kodi Smit-McPhee

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