Seguindo a premissa do futuro da humanidade, Sonhos Elétricos é um daqueles livros que te passa uma mensagem sem nunca parecer doutrinador ou altamente expositivo. Uma coletânea de contos tão divertidos e inteligentes não poderia passar batida por nós assim tão facilmente: coube à Amazon trazer uma série de TV ao estilo Black Mirror para relembrarmos a grandeza de Philip K. Dick.
Ao todo são 10 contos em 236 páginas que te guiarão pelos confins do espaço e do tempo, lembrando como a mente humana pode ser incrível e, ao mesmo tempo, assustadora. Como foco geral temos a evolução tecnológica humana como pano de fundo para quase todos os contos.
A escrita de Dick é simples mas concisa, te transporta para os cenários e personagens sem nunca gastar tempo com firulas ou enchendo o texto com palavras desnecessárias. Assim como Blade Runner, os contos vão direto ao ponto nunca aprofundando demais ou alongando demasiadamente a história.
Philip é um daqueles autores universais no qual você pode recomendar para qualquer pessoa. Seja você um amante de ficção científica ou uma pessoa que nunca pôs os pés neste lado da literatura, Dick é um autor confiável para qualquer um que parece jogar em uma zona segura do gênero. Se você quer entrar nesse meio, ele é o autor ideal. Se você já o conhece, com certeza também irá querer lê-lo.
A universalidade age a favor de Philip na gigantesca maioria das vezes, mas também pode ser um ponto negativo já que sentimos que às vezes ele poderia dar mais para o leitor, nos mergulhar melhor em seus cenários apocalípticos. Por vezes nos sentimos atirados em uma história que já está próxima do fim sem saber direito onde estamos. Muitas vezes isso funciona bem, mas outras há aquela sensação de estarmos perdidos.
Os contos são rápidos e geralmente simples com um pequeno plot-twist no final quase como um alívio cômico. Ao longo dos 10 contos, poucos são aqueles que tendem a ir para o lado mais sério, sendo a maioria comédia-dramática. Vemos os personagens em situações tão inusitadas e complexas que fica difícil não se sentir nervoso, porém Philip surge com um alívio – ou não – cômico quase sempre, deixando a situação ainda pior e engraçada.
Ao longo dos contos, poucos foram aqueles que me deixaram bocejando. Nenhum deles chega a ser ruim, porém alguns como O Fabricante de Gorros e O Passageiro Habitual deixam a desejar. O primeiro, por exemplo, é chato do início ao fim, parecendo corrido demais e sem explicação. Porém, todos os outros brilham em detalhes surpreendentes. Foster, Você Já Morreu, Argumento de Venda e O Enforcado Desconhecido foram, pra mim, os melhores contos, sendo eles engraçados e assustadores ao mesmo tempo.
As semelhanças com Black Mirror param no tema. Nos contos, nem sempre Philip parece querer nos impressionar com questões de moral ou ética, sendo assim um livro de contos que está aí apenas para narrar os acontecimentos que estão em sua cabeça. Obviamente há aqueles contos que criticam a sociedade de consumo e questionamentos sobre o que é ser humano, mas o cerne dos contos não é esse.
Sonhos Elétricos é um livro que não é perfeito porém deixa de lado as ideias complexas, uma escrita narrativa robusta e personagens chatos em favor de algo rápido, divertido, inovador e algumas vezes questionador, agradando qualquer pessoa que queira algo diferente sem parecer complicado demais. Mais uma vez, Philip K. Dick prova como escrever uma história futurística surpreendente, dramática e cheia de risadas.
Prós
– Escrita
– Temas Abordados
– Dramédia
Editora Aleph 256 páginas 2018