Crítica escrita por Bernardo Vilela

Instagram: @bernardo_vilela

Mais um filme da franquia Uma Noite de Crime (The Purge) chega aos cinemas após quatro filmes e duas temporadas de uma série. Em Uma Noite de Crime: A Fronteira, acompanhamos dois imigrantes mexicanos ilegais em uma pequena cidade do Texas que buscam viver o famoso american dream. Entretanto, o Expurgo que temos acompanhado ao longo dos últimos filmes torna-se cada vez mais preocupante, já que muitos cidadãos não querem mais que esse feriado termine.


O filme mais uma vez repete a lógica maniqueísta entre indivíduos ufanistas com seus privilégios elitistas e grupos minoritários socialmente, tendo como pano de fundo a luta de classes e o extermínio da população mais pobre. Com isso, evidenciam-se os clichês de uma separação nítida entre heróis e vilões dentro do enredo do filme, que, dessa vez, exagera principalmente nos estereótipos latinos diante da visão norte-americana.

O filme tem como maior ponto positivo o amadurecimento do gênero de suspense, que nos envolve o suficiente para ficarmos tensos e ansiosos pelo que está por vir. É notável um bom uso de jumpscares, que surgem em momentos pontuais e nos dão a sensação de desespero adequada para cada cena. Aliás, desespero é o que não falta nesse filme. Assim como o Anarquia, meu favorito da franquia, o A Fronteira não poupa violência e grandes cenas pelas ruas, contendo muitas explosões, fogo em todo canto e muito sangue.

Percebe-se também uma maior preocupação com a linguagem. Inicialmente, acredita-se que o filme será de gênero, retratando uma estética de filmes de faroeste. Todavia, ao decorrer dos acontecimentos, os personagens são guiados para um caminhão, onde passarão grande parte da história. Desse modo, o filme pode ser considerado um road movie assustador? Talvez um western de terror?

É válido ressaltar as discussões que o filme tenta – e apenas tenta – trazer, principalmente sobre xenofobia e racismo. Existem cenas em que essa crítica é mais evidente, como quando uma pessoa latina e uma pessoa preta levam a culpa por um crime que não cometeram, mas ainda é um discurso feito de uma maneira rasa, deixado também em segundo plano. Há uma crítica mais explícita ao armamentismo e ideologias supremacistas que ganha mais força dessa vez. Por fim, mesmo que não da maneira certa, o filme propõe a inversão entre as absurdas relações étnicas de poder. No maior estilo “e se…?”, a comodidade da vida imperialista norte-americana parece aos poucos desmoronar.

Portanto, ao observar os últimos filmes, A Fronteira torna-se um grande passo para a franquia se desenvolver, quase como uma luz no fim do túnel. O filme está longe de ser excelente, mas demonstra um amadurecimento linguístico e busca relacionar-se a temas sociopolíticos tão em voga no momento. Considerando que virão novas sequências, espera-se que elas possam atingir um alto nível de progresso.

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