Mais um Velho X Novo, dessa vez comparando as duas versões de Robocop. O original, dirigido por Paul Verhoeven, possui um status de clássico cult. Mas, será que o remake, do brasileiro José Padilha, conseguiu superá-lo? Isso é o que vou tentar descobrir ao comparar as duas versões.
Abaixo seguem os critérios que vou utilizar para poder explicar minha opinião:
1 – Protagonistas
2 – Vilão (ões)
3 – Coadjuvantes
4 – História
- Protagonistas
Em ambos os filmes o protagonista é o policial Alex Murphy, porém há uma diferença enorme na abordagem do personagem. No original, Alex é um policial recém chegado a uma nova divisão em Detroit e acaba sendo “morto” em ação ao tentar prender uma quadrilha de marginais procurados.
Já no remake, Murphy não é o cara novo na área. Ele está atuando disfarçado em uma investigação e acaba descobrindo que armas já apreendidas pelo seu Departamento estavam sendo novamente colocadas nas ruas, o que significa que policiais estão envolvido no esquema. Por estar chegando muito perto dos culpados, ele acaba sendo “morto” num atentado.
Como podem ver, existe uma grande diferença. Enquanto o original usa Alex Murphy mais como uma alegoria, cujo propósito maior é ressaltar o universo que está a sua volta, o remake realmente abraça toda uma história. Isso também fica evidente em sua transformação homem-máquina-homem, pois com sua história mais em evidência fica mais palpável toda esta transição.
No fim das contas, vai depender basicamente da preferência pessoal de cada um. Por ter visto mais da pessoa Alex Murphy, fico com o remake. Porém, aqueles que preferem mais tempo de tela para o Robocop, provavelmente, devem gostar mais do original.
- Vilões
O primeiro Robocop tem basicamente 2 grandes vilões. O executivo da Omnicorp Dick Jones, nome na medida para o personagem, e o criminoso Clarence Boddicker , sendo interpretados respectivamente por Ronny Cox e Kurtwood Smith, que roubam a cena sempre que aparecem.
O novo filme tem como vilões CEO da Omnicop e em menor grau o criminoso Patrick Garrow, que possui alguns policiais corruptos na folha de pagamento. Michael Keaton está impecável, numa de suas melhores atuações desde Batman, e consegue andar na tênue linha que separa os vilões caricaturizados daqueles mais humanos.
Por ter 2 personagens no rol de vilões mais lembrados do cinema, certamente esse ponto vai para o primeiro Robocop. Apesar de ambos serem mais caricatos, conseguem funcionar muito bem no mundo distópico criado por Paul Verhoeven. Porém, certamente a interpretação de Keaton no remake será lembrada por bastante tempo.
- Coadjuvantes
O Robocop original tinha basicamente 2 coadjuvantes realmente relevantes, Nancy Allen, a parceira de Murphy e o executivo da Omnicorp Bob Norton, responsável pelo projeto Robocop. Nancy é uma das responsáveis por auxiliar Alex Murphy, tanto a manter sua humanidade, quanto a conseguir punir os responsáveis pelo que aconteceram com ele.
O novo Robocop possui um mar de personagens coadjuvantes, todos com seus próprios dramas e essenciais a história. Dentre eles temos o apresentador Pat Novak (Samuel L. Jackson em grande performance), ferrenho defensor da tecnologia da Omnicorp e que também serve como termômetro para nos mostrar como a população dessa realidade encara tal tema; o parceiro de Murphy, o detetive Jack Lewis; o Dr. Dennett Norton (interpretado pelo sempre competentíssimo Gary Oldman), cuja pesquisa permite a criação do Robocop; e a esposa e filho de Alex também são parte fundamental do longa, sendo os elementos que mantém o lado humano do detetive.
Neste ponto a vantagem é completamente a favor do novo filme. Enquanto no primeiro temos poucos personagens coadjuvantes realmente relevantes para trama, no remake temos vários, sendo a maioria deles bastante interessante de acompanhar.
- História
No filme de Paul Verhoeven o mundo está em uma crise econômica sem precedentes e a criminalidade segue aumentando em níveis alarmantes. A polícia não consegue dar conta da segurança (policiais são constantemente assassinados) e a ameaça de uma possível greve, em razão das péssimas condições de trabalho e salários ruins, é palpável. Parece até que o filme foi feito pensando no Brasil atual, não é mesmo? Nesse contexto é que a Omnicorp, uma gigantesca organização multinacional, aparece e compra o Departamento de Polícia.
O filme de José Padilha também conta com muitas camadas. O poder de influência da mídia, tão em voga por aqui ultimamente, é bastante ressaltado no longa através do personagem de Samuel L. Jackson. Já a Omnicorp tem um papel um pouco diferente, neste filme a organização desenvolveu máquinas que substituiram os militares e almejam fazer o mesmo com as forças policiais internas, visando explorar esse imenso mercado. Entretanto, a opinião pública vai no sentido de ser contra ter máquinas podendo determinar a vida e morte de vidas americanas, sendo aí que nasce o projeto Robocop.
Como podem ver cada trama é bastante relevante para o período em que os filmes foram lançados. A abordagem do primeiro é mais violenta e previa um futuro mais pertubador, por isso essa violência tão gráfica não transparece ser exagerada em momento algum.
No novo Robocop não temos essa violência tão visual, contudo isso não fez tanta falta como eu imaginava. Mas, isso fica natural, pois o mundo deste Robocop não é assim tão aterrador.
Enfim, ambos os filmes tem histórias fortes e poderosas, mas o primeiro tem a vantagem do aspecto da originalidades, além de se mostrar relevante ainda nos dias de hoje. Por estar a frente de seu tempo.
No frigir dos ovos ambos os filmes são muito bons e merecem ser apreciados. Entretanto, mesmo com o empate técnico minha tendência é dar a vitória para o filme original. Vocês podem estar se perguntando a razão disso e eu respondo:
Todo o conceito surgiu ali, seja na estética visual ou na trilha sonora, tão marcante que é utilizada também no remake. Por esse simples motivo, a concepção da ideia, é que considero o primeiro sendo o filme superior, apesar de ser por uma margem bem pequena.
Concordo com a maior parte de sua análise! A diferença é que eu acho o filme original BEM melhor que o novo, pelos mesmos conceitos que você levantou – originalidade e violência extrema. A questão da mídia exercer grande influência no novo Robocop, mais do que no velho, eu também concordo e acho este o ponto forte do novo filme de Padilha.