Ursula K. Le Guin é uma das mais famosas escritoras de ficção científica de todos os tempos. Por ser mulher, Le Guin é constantemente dita como a mais importante em sua categoria que possui mais homens do que mulheres. Derivando um pouco da ficção científica comum, Ursula tende a explorar temas mais sociais do que a própria ciência ou os limites astro-físicos quebrados por uma sociedade mais avançada.

Em Os Despossuídos, Le Guin exibe toda as suas criações baseadas exatamente no avanço – ou retrocesso – das sociedades e como elas são. Na trama temos 2 planetas vizinhos – Anarres e Urras – que, aparentemente se odeiam e são distintos entre si. Se em Urras temos uma sociedade capitalista, em Anarres temos outra anarquista como base. Em Urras as pessoas compram e precisam trabalhar para ganhar dinheiro. Em Anarres as pessoas fazem trabalhos voluntários com o intuito de ajudar uns aos outros e possuem apenas o que é necessário.

Diante desses planetas temos Shevek, um cientista tentando completar uma tese matemática que parece nunca terminar. Então, Shevek vai para Urras e lá encontra uma sociedade completamente diferente da sua que vão desde costumes até a sexualidade.

Le Guin faz uma análise profunda das sociedades colocando embates entre os personagens. Shevek, embora tenha estudado sobre Urras, se assusta com os costumes do outro planeta além de sempre gostar de falar das diferenças entre eles e em como são melhores ou piores em determinados aspectos.

Há uma imensa complexidade em Os Despossuídos que pode espantar os leitores mais novatos. Não é um livro sobre espaçonaves ou lutas intergalácticas mas sim um livro sobre como as sociedades são montadas, de como elas reagem entre si ou como nem sempre as melhores ideias dão certo na vida real. Além disso, Ursula quebra alguns paradigmas de conceitos que temos sobre os sistemas políticos-sociais de uma população sem que tudo pareça um grande palanque para exibir ideias.

Tudo soa bastante natural, porém denso. A autora nos joga diante desses dois universos sem nos dar explicações iniciais, sem que haja qualquer tipo de informação pré-estabelecida para guiar o leitor, e cabe a você capturar e remendar todos os pedaços da história para que o quebra-cabeças fique pronto. Embora exiba as visões de capitalismo e anarquismo, ela não nos diz qual é o certo ou o errado, colocando em diálogos e embates entre os próprios personagens a tentativa de convencer se há uma sociedade melhor do que a outra.

Minha única ressalva fica para os personagens que não são carismáticos. Por mais que tenhamos a visão de Shevek sobre tudo e o foco central seja esse personagem, mesmo ele parece ser apenas mais um que não consegue te tocar em nenhum aspecto pois todos parecem lavados e secos, sem qualquer tipo de característica mais pessoal que traga essa conexão entre leitor-livro, o que é uma pena.

Os Despossuídos é um livro cheio de teorias, complexidades e exploração de universos que são ao mesmo tempo parecidos e diferentes do nosso, dando uma luz geral em possíveis civilizações como as nossas. Ursula Le Guin consegue trazer para nós uma obra que foca em construção de população sem que isso seja chato ou tedioso, criando assim universos incríveis para qualquer um querendo uma leitura profunda e poderosa.

 

 

Prós:

– Criação de Sociedade

– Exploração dos Temas

– Debates entre Personagens

Contas:

– Personagens Genéricos

Editora Aleph                                   384 páginas                                               2017

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui